Software inédito no Brasil facilita a gestão de granjas de suínos

A Embrapa Suínos e Aves (SC) apresenta ao setor produtivo o Software de Gestão Ambiental da Suinocultura (SGAS), um pacote de aplicativos web que vai facilitar a gestão e o licenciamento ambiental de granjas de suínos. Inédita no Brasil, a ferramenta digital abrange diversas funcionalidades que automatizam e padronizam projetos e análises de processos de licenciamento ambiental, antes elaborados de forma manual ou por meio de planilhas. O objetivo é trazer confiabilidade e rastreabilidade não apenas às propriedades, mas também aos estados onde o sistema for adotado e, consequentemente, à produção de suínos em nível nacional.

O SGAS atende à demanda dos setores que atuam direta e indiretamente na cadeia produtiva de suínos por mais rapidez e segurança nas análises ambientais. Segundo o pesquisador da Embrapa Suínos e Aves Rodrigo Nicoloso, a falta de padronização na metodologia e nos processos de licenciamento gerava divergência de interpretações e insegurança dos analistas dos órgãos ambientais, levando muitas vezes a atrasos na avaliação dos processos e retrabalho na formulação dos projetos.

“As funcionalidades oferecidas pela nova ferramenta (veja quadro abaixo) automatizam e padronizam os projetos de gestão ambiental de granjas de suínos, trazendo confiabilidade e rastreabilidade ao monitoramento ambiental”, pontua Nicoloso. O objetivo é que os dados gerados sejam reunidos em um banco eletrônico de licenciamento e monitoramento ambiental das granjas de suínos, facilitando a obtenção de estatísticas para a adoção de tecnologias mais sustentáveis nesses espaços. 

O SGAS está disponível gratuitamente no site da Embrapa Suínos e Aves e é indicado para produtores rurais, profissionais de assistência técnica, extensão rural e licenciamento ambiental, gestores de agroindústrias e cooperativas e analistas de órgãos ambientais, além de gestores públicos que atuam nas áreas de tratamento de resíduos, meio ambiente, agronomia, engenharia agrícola, engenharia sanitária e ambiental.

Conheça as funcionalidades da versão 1.0 do SGAS

  • Gestão das áreas agrícolas da propriedade rural com cadastro de talhões e pontos de coleta para análises de solo; 
  • Cadastro, interpretação de resultados de análises de solo e recomendações de calagem e adubação com fertilizantes orgânicos e minerais para as principais culturas agrícolas, forrageiras e florestais; 
  • Monitoramento da qualidade do solo e classificação conforme limites críticos ambientais de fósforo para solos do Rio Grande do Sul e Santa Catarina; 
  • Planejamento agrícola de talhões para cálculo da demanda de nutrientes nas áreas agrícolas; 
  • Calendário agrícola de aplicação de dejetos líquidos suínos;
  • Cadastro de núcleos de produção de suínos com estimativa de consumo de água, produção de dejetos líquidos suínos e oferta de nutrientes conforme sistema de manejo desses resíduos; 
  • Dimensionamento de rebanho de suínos por balanço de nutrientes; 
  • Dimensionamento de esterqueiras, biodigestores, lagoas de armazenamento de digestato e de unidades de compostagem de dejetos.

Novos mercados à vista 

O SGAS já foi licenciado, testado e validado pelo Instituto do Meio Ambiente (IMA) para apoio aos processos de licenciamento em Santa Catarina. Contrato similar também já foi assinado com a Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) para uso do sistema no Rio Grande do Sul.

Segundo Nicoloso, a versão atual do SGAS incorpora recomendações de adubação e indicadores ambientais regionalizados e validados apenas para esses dois estados.  “Mas já estamos negociando contratos de cooperação com os órgãos ambientais do Paraná e do Mato Grosso para licenciamento com indicadores validados para cada um desses estados”, explica. O licenciamento é oferecido de graça aos órgãos ambientais.

A gerente de licenciamento ambiental rural do IMA, Gabriela Ribeiro, diz que o software será uma ferramenta muito útil para a gestão ambiental da propriedade rural. “Ele possibilitará que os consultores ambientais realizem cálculos desde a determinação da excreção, oferta, perdas e concentração de nutrientes em efluentes da suinocultura até a definição da capacidade de alojamento de animais e demanda de áreas agrícolas. A partir desse sistema, os projetos realizados pelos consultores ambientais serão padronizados e os dados terão os resultados com maior confiabilidade”, complementa.

Até agora, os projetos de licenciamento no instituto eram feitos manualmente, a partir de planilhas eletrônicas, ou outras ferramentas. “Mas isso demandava mais tempo para os consultores ambientais e também para a análise dos processos pelos técnicos do IMA. Além disso, os dados muitas vezes não eram descritos de forma correta, e o nível de confiabilidade era menor”, pontua Gabriela.

Sistema reflete a expertise da Embrapa em gestão ambiental 

O SGAS é um dos resultados do modelo inovador de gestão ambiental desenvolvido pela Embrapa em parceria com a então Fundação do Meio Ambiente (Fatma), hoje IMA, para regulamentar o licenciamento ambiental da suinocultura em Santa Catarina. O modelo resultou na Instrução Normativa 11/2014, hoje também adotada pela resolução 143/2019 do Conselho Estadual do Meio Ambiente de Santa Catarina (Consema).

Entre os benefícios decorrentes da IN11/2014, estão a definição de critérios e limites para a reciclagem dos dejetos líquidos de suínos na agricultura e a instituição de um programa de monitoramento da qualidade do solo em áreas adubadas com esses resíduos. Segundo Nicoloso, esse programa permite identificar áreas agrícolas saturadas pela aplicação excessiva de fertilizantes, restringindo o uso e impondo a adoção de medidas mitigatórias do risco de poluição ambiental. 

“Dessa maneira, o rebanho de suínos alojável em uma granja e a correspondente oferta de nutrientes associada aos dejetos líquidos gerados por essa atividade deve ser compatível com a demanda de nutrientes nas áreas agrícolas da propriedade rural onde vão ser reciclados como fertilizante. Caso essas áreas não sejam suficientes para reciclar todos os resíduos, o modelo preconiza ainda as possíveis rotas tecnológicas para tratamento, que possibilitam até a retirada desses nutrientes da propriedade rural”, explica o pesquisador.

O modelo também estabelece padrões de consumo de água, produção de dejetos e oferta de nutrientes para diversos sistemas de produção de suínos, como as granjas de ciclo completo, creches e unidades de produção de leitões. Além disso, incorpora padrões mínimos para o armazenamento ou tratamentos dos dejetos, introduzindo novas tecnologias para seu manejo na granja. 

Com todas essas inovações, as normativas que regulamentam a suinocultura em Santa Catarina estão entre as mais avançadas do Brasil quanto à gestão ambiental de uma cadeia de produção animal, sendo comparáveis às legislações aplicadas nos principais países produtores de suínos.

A suinocultura no Brasil

A suinocultura é uma das principais cadeias econômicas do País. Em 2019, somente a receita obtida com as exportações de 750 mil toneladas de carne foi de US$ 1,597 bilhão (aproximadamente R$ 8,5 bilhões) segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). Quarto maior exportador de carne suína, o Brasil produziu apenas no ano passado 3,983 milhões de toneladas, o que também faz o País ser o quarto maior produtor mundial.

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