Atividade industrial cresce em março, mas anda de lado no trimestre 

Atividade industrial

Apesar do movimento de normalização na cadeia global de insumos, as condições financeiras restritivas pesarão sobre a atividade industrial nos próximos meses

A produção industrial aumentou 1,1% entre fevereiro e março, sem efeitos sazonais. Frente a março de 2022, houve aumento de 0,9%. O crescimento veio pouco abaixo da expectativa da FIESP (+1,4%). O resultado do mês foi puxado pela indústria de transformação (+1,4%), dado que a indústria extrativa ficou próxima da estabilidade (-0,1%). O nível da produção industrial está 1,3% abaixo do momento pré-pandemia (fevereiro de 2020) – Gráfico 1, e 17,9% abaixo do nível recorde alcançado em maio de 2011.

Gráfico 1 – Produção Industrial

Dados dessazonalizados – Média móvel de três meses (Base: Fev/20 = 100)

Fonte: elaboração FIESP a partir de dados do IBGE.

O aumento na atividade industrial na passagem para março foi espraiado em três das quatro categorias econômicas e 16 dos 25 setores pesquisados. Entre os segmentos, os destaques positivos ficaram a cargo de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (+1,7%), máquinas e equipamentos (+5,1%) e equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (+6,7%). Por outro lado, confecção de artigos do vestuário e acessórios (-4,7%) exerceu o principal impacto negativo no mês.

Em relação às grandes categorias econômicas, na comparação com o mês anterior, sem influências sazonais, bens de capital (+6,3%) e bens de consumo duráveis (+2,5%) registraram as principais variações positivas em março de 2023, seguidos por bens intermediários (+0,9%). Por outro lado, o segmento de bens de consumo semi e não duráveis (-0,5%) teve a única variação negativa na passagem mensal.

Ainda na série com ajuste sazonal, a evolução do índice trimestral ficou estável no 1º trimestre de 2023 na comparação com o último trimestre do ano passado. Esse resultado veio após crescimento de 0,2% no trimestre finalizado em dezembro. Ainda com relação ao 4º trimestre de 2022, a indústria extrativa cresceu 3,0% e a transformação registrou queda de 0,3%.

Análise do cenário pela FIESP 

Através de uma abordagem econométrica é possível explicar o crescimento da Produção Industrial a partir de fatores macroeconômicos[1]. Essa abordagem se baseia na variação anual de variáveis explicativas que foram empregadas dentro de um modelo de regressão.

As variáveis selecionadas foram: (i) Renda Nacional Disponível Bruta das Famílias (RNBDF), conceito restrito; (ii) Concessões de crédito total (PF e PJ), ambos computados pelo BCB; (iii) Índice de Incerteza Econômica (IIE), da FGV; (iv) Índice de Commodities do Banco Central (IC-Br); (v) Índice de Condições Financeiras (ICF), calculado pela FIESP; (vi) Global Supply Chain Pressure Index do Fed de NY (Pressão cadeias); e (vii) Inércia – variável dependente defasada que capta os efeito passados da atividade industrial. Os resultados podem ser observados no Gráfico 2.

Gráfico 2 – Decomposição do crescimento anual da PIM

Desvio da média amostral (Mai/12 – Mar/23)

Fonte: elaboração FIESP.

Embora parte das variações sejam explicadas pelo componente inercial e pelo resíduo do modelo, as variáveis selecionadas contribuem para entender o desempenho da atividade industrial. Nos últimos anos, conclui-se que os choques de oferta contribuíram para o fraco desempenho da produção industrial. Sobretudo após o início da pandemia e a Guerra na Ucrânia.

No período recente, por um lado, é possível observar melhora nos componentes relacionados à incerteza, maior resiliência da renda das famílias e a normalização na cadeia global de insumos. Por outro lado, a piora das condições financeiras restritivas predomina pelo lado negativo e devem continuar pesando sobre a atividade industrial em 2023.

O alto patamar dos juros domésticos e internacionais tem mantido o Índice de Condições Financeiras (ICF-FIESP) em terreno restritivo – Gráfico 3, com impacto sobre os canais de crédito, aumento da inadimplência, e comprometimento da renda das famílias e das empresas com encargos financeiros. 

Gráfico 3 – Indicador de Condições Financeiras da FIESP (ICF-FIESP)

Fonte: elaboração FIESP, a partir de dados da Bloomberg, BCB e FED.

As atividades industriais refletem essas condições financeiras desfavoráveis, como pode ser observado no Mapa de Calor – Figura 1. O Mapa de Calor da Atividade Industrial mostra que, na indústria de transformação, 10 atividades estavam acelerando (Forte + Muito Forte) e 5 atividades desacelerando (Fraca + Muito Fraca) em março de 2022. No mesmo período de 2023, esse resultado foi revertido, com apenas 7 atividades acelerando e 9 arrefecendo.

Fonte: elaboração FIESP a partir de dados do IBGE

Nesse cenário, a FIESP projeta queda de 0,5% da atividade industrial em 2023, que, se confirmada, será a sétima em 10 anos. Do ponto de vista macroeconômico, o quadro de fraco dinamismo da atividade industrial pode ser amenizado com uma redução forte da taxa de juros. Por fim, é importante avançar com a discussão sobre a reforma tributária para harmonizar as regras e melhorar o ambiente negócios no país.

[1] Baseado em estudo da consultoria MCM de fev/23: “Decomposição do crescimento da PIM”.

Fonte: FIESP

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