Uso de ressonância magnética no agro fortalece-presença de parceira da Embrapa na Ásia

O impacto da aplicação e do caráter inovador da ressonância magnética nuclear (RMN) para avaliação da qualidade de produtos da agroindústria está abrindo caminhos e consolidando mercados para a parceira da Embrapa Instrumentação (São Carlos – SP), Fine Instrument Technology (FIT). A empresa é a segunda colocada entre as 14 selecionadas pelo programa Startup OutReach Brasil para participar de uma imersão presencial em um dos principais centros econômicos do mundo, Singapura, no Sudeste da Ásia.

O programa de internacionalização gratuito de negócios inovadores tem por objetivo promover a inserção de startups brasileiras nos ecossistemas mais promissores de inovação do planeta, por meio de ações de capacitação, mentoria, conexão online e presencial com parceiros e atores de destaque no cenário empreendedor internacional.

Inovação no agro

Desenvolvida há mais de 30 anos pela Embrapa Instrumentação para detectar o teor de óleo em grãos e alterações em alimentos in natura e industrializados, a RMN está embarcada no aparelho SpecFit, resultado da parceria com a startup são-carlense. A inovação a levou a ser reconhecida como empresa nacional de base tecnológica com potencial de internacionalização dentro do Startup OutReach Brasil.

Com a aplicação da RMN, as análises são realizadas sem destruir a amostra, em segundos, de forma limpa, sem o uso de solventes, como ocorre nos métodos tradicionais. A tecnologia já está disponível em mais de 20 países, incluindo alguns do continente asiático, cuja presença ganha força com a imersão que será realizada no período de 25 de outubro a 3 de novembro deste ano.

Outra vantagem é que a técnica foi reconhecida pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) e Association of Official Agricultural Chemists (AOAC) para avaliação do teor de lipídeos em carnes, produtos cárneos e pescados.

indústrias de extração de óleo de palma, também conhecido como azeite de dendê, o mais consumido e produzido do mundo. Indonésia e Malásia, onde o SpecFit já está presente por meio de parceiros distribuidores, são os maiores países produtores. Juntos, eles representam entre 85 e 90% da produção global deste óleo vegetal, de acordo a European Palm Oil Alliance.

Vanguarda na pesquisa

O pesquisador da Embrapa Instrumentação, Luiz Alberto Colnago, tem conduzido estudos de forma pioneira desde 1986 com ressonância magnética nuclear para identificar teores de óleos em grãos e alterações em alimentos in natura – frutas e carne bovina – e industrializados, como azeite de oliva, maionese, molhos de salada e até vinho. A técnica é uma alternativa aos métodos convencionais, trabalhosos e demorados.

Entre as análises mais recentes realizadas pelo pesquisador com a técnica de RMN estão três cultivares de amendoim lançadas na Agrishow deste ano pela Embrapa Algodão (Campina Grande – PB). O estudo apontou alto teor de ácido oleico, acima de 75% nos grãos direcionados ao consumo de mesa e à indústria de alimentos.

A quantificação, caracterização e classificação do teor de óleo em farinha de pupunha, nativa da floresta amazônica, é outro estudo concluído com a utilização da técnica. Atualmente Colnago investiga a composição de molhos de tomate industrializados para detectar alterações no produto.

“É uma grande satisfação ver que uma startup nacional, aplicando uma técnica que desenvolvemos para o agro, é selecionada para vivenciar um ecossistema tão pujante como Singapura. A participação da startup nesta missão representa também uma oportunidade para Embrapa, de mostrar em âmbito internacional o potencial da ciência desenvolvida no Brasil. É uma conquista para um pesquisador ver a aplicação prática de uma técnica, que traz impactos positivos em diferentes cadeias produtivas”, diz Colnago.

O pesquisador atua com a RMN de baixo campo, cerca de dez vezes mais barata do que as usadas em equipamentos tradicionais. O aparelho utilizado por ele funciona similar ao de uso médico, mas não gera imagem e nem espectro. A tecnologia de baixo campo mede o tempo de desaparecimento do sinal de ressonância, que é comparado com um banco de dados por programas estatísticos. Esses sistemas transformam a informação na composição química dos produtos agroalimentares.

União de competências

A parceria entre a Embrapa Instrumentação e a FIT tem refletido em importantes resultados de base científica, técnica e mercadológica, tanto para o pesquisador que ousou em romper paradigmas, como para a startup. O pioneirismo no desenvolvimento da metodologia e instrumentação aplicada ao agro tem levado Colnago a conquistar reconhecimento no Brasil e no exterior.

Um deles é o Prêmio Capes de Tese edição 2019, na área de Química, junto com Flávio Vinícius Crizóstomo Kock, seu orientado de doutorado no Instituto de Química de São Carlos (IQSC/USP). No exterior, tem realizado apresentações nos principais congressos internacionais de RMN, química analítica e alimentos.

Por outro lado, o emprego da RMN embarcado no aparelho SpecFit vem projetando a startup em âmbito nacional e internacional. Em 2022, a empresa recebeu o Prêmio Startups do Futuro promovido pelo Sebrae for Startups e Wylinka por ter sido reconhecida como uma das 103 deep techs do estado de São Paulo mais promissoras para 2023.

O termo deep techs se refere às empresas que desenvolvem tecnologias complexas, a partir de pesquisas acadêmicas que demonstram alto potencial de crescimento e de impacto no ecossistema de inovação.

O CEO da startup, Daniel Consalter, diz que a aplicação baseada na técnica de ressonância magnética nuclear auxilia às indústrias extratoras de óleo de palma a controlar o desperdício, porque o SpecFit fornece o resultado da análise do teor nos frutos e, no caso de empresas deste ramo, o processo ocorre em todos os resíduos nos quais podem haver perdas, em um tempo médio de 30 segundos.

“Com essa rapidez, elas tomam decisões importantes para melhorar o processo e regular equipamentos e parâmetros como temperatura e velocidade de processo. O sucesso da solução levou praticamente todas as empresas do setor no Brasil a adotarem pelo menos um equipamento SpecFit. Depois, expandimos para países da América Latina, como Peru, Colômbia, Guatemala, Equador, Costa Rica e México, todos para o setor de óleo de palma”, afirma Consalter.

O CEO acredita que fortalecer a presença da empresa com a tecnologia de RMN no Sudeste Asiático é bastante oportuno e valioso, considerando que esta região da Ásia é responsável por 90% do mercado de óleo de palma. “Tanto os avaliadores brasileiros quanto os do local do evento entenderam que nossa solução pode trazer um grande impacto positivo para ambos os países. Estamos muito orgulhosos com mais esse passo”, ressaltou o CEO.

Para atender aos mercados interno e externo, a parceira da Embrapa Instrumentação está ampliando a área física com a construção de um prédio de 1.000 m². A nova sede será inaugurada em julho de 2024 no Parque Tecnológico EcoTec Dahma, em São Carlos.

Processo seletivo

A startup foi selecionada para o Startup OutReach Brasil por um grupo de atores, que incluiu investidores e representantes de ambientes de inovação, entre outros. O Ciclo Singapura, nome desta edição, é composto de três etapas, a Missão Virtual, no qual participaram 40 startups, a Missão de Imersão com a seleção de 14 empresas, incluindo a Fine Instrument Technology, e a Pós-Missão.

Para a seleção, o programa considerou, entre outros critérios, o fato da startup ter um produto ou serviço finalizado para a comercialização e já estar gerando negócios ou recebendo investimentos. A empresa recebe aporte de recursos da aceleradora NTAgro desde 2019.

Além da imersão com sessões de mentorias, matchmaking para conexão com agentes do mercado do Sudeste Asiático e visitas aos ambientes de inovação, a startup é uma das que vão participar da Singapura Week of Innovation in Technology (SWITCH), considerado a maior feira de startups daquela região.

O programa Startup OutReach Brasil é organizado pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC), Ministério das Relações Exteriores (MRE), Sebrae Startup, Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), e a Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec). O programa já realizou 14 ciclos de internacionalização em 10 países diferentes e atendeu mais de 300 startups desde a criação em 2017.

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