A pecuária de corte no Brasil está em plena transformação. Guilherme Cunha Malafaia, pesquisador do Centro de Inteligência da Carne Bovina (CiCarne) da Embrapa Gado de Corte, compartilhou insights valiosos sobre as principais tendências que estão moldando o setor, com destaque, o uso da biotecnologia que tem impulsionado o melhoramento genético e novas técnicas de produção. Acompanhe a matéria completa e saiba como a indústria é um importante alicerce neste cenário futuro, cada vez mais presente
Por: Erika Ventura
De um lado o pecuarista, desenvolvendo suas atividades no campo, na outra ponta, o consumidor, cada vez mais atento. No meio, processos que estão em plena transformação. De acordo com Guilherme Cunha Malafaia, pesquisador do Centro de Inteligência da Carne Bovina (CiCarne) da Embrapa Gado de Corte, o maior grau de exigência do consumidor e a concorrência com outras fontes de proteína deve forçar toda a cadeia da carne a produzir melhor.
“O bem-estar animal será mandatório, da cria ao abate. A inovação digital, por sua vez, será uma das duas forças disruptivas para o mercado nas próximas duas décadas e servirá de força catalisadora no processo de transformação da cadeia, injetando gestão e inteligência na atividade, aproximando o elo produtor do consumidor e viabilizando a rastreabilidade, certificação e qualidade do produto carne. Além disso, as soluções biotecnológicas também ocuparão espaço no manejo e serão a mola propulsora de transformações”, detalha o pesquisador.
A Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF), Transferência de Embriões (TE), Fertilização in vitro (FIV) e edição gênica estão revolucionando a pecuária. “Essas técnicas contribuem para uma melhor qualidade da carne e produzem animais mais resistentes e produtivos”, afirma. Além disso, a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) emerge como uma alternativa sustentável que beneficia tanto a produção de bovinos quanto o meio ambiente.
Neste novo cenário, a qualificação da mão de obra é uma prioridade. Segundo o pesquisador, o Brasil terá uma pecuária altamente tecnificada, profissional, competitiva e uma referência global não só pelo gigantismo, mas também por sua tecnologia e qualidade.
O papel dos frigoríficos neste cenário
Os frigoríficos desempenham um papel crucial na cadeia de produção de carne bovina, e sua colaboração com os produtores no campo é essencial para garantir a qualidade e a eficiência da produção. Malafaia cita algumas maneiras, entre outras, pelas quais os frigoríficos podem apoiar os pecuaristas:
• Assistência Técnica: muitos frigoríficos oferecem assistência técnica aos produtores, fornecendo orientações sobre boas práticas de manejo, nutrição animal, controle sanitário e seleção genética. Essa assistência pode ajudar os produtores a melhorar o manejo do rebanho, reduzir perdas e aumentar a produtividade.
• Programas de Qualidade: frigoríficos frequentemente estabelecem programas de qualidade e certificação que incentivam os produtores a adotar práticas que resultem em carne de melhor qualidade. Isso pode incluir programas de rastreabilidade, garantindo que os animais sejam criados de forma sustentável e com boas práticas de bem-estar animal.
• Compra Direta de Animais: muitos frigoríficos compram animais diretamente dos produtores, oferecendo preços justos e contratos de longo prazo. Isso proporciona estabilidade financeira aos produtores e incentiva investimentos em melhorias na produção.
• Capacitação e Treinamento: frigoríficos frequentemente oferecem programas de capacitação e treinamento para os produtores, fornecendo conhecimento sobre novas tecnologias, técnicas de manejo e regulamentações do setor. Isso ajuda os produtores a se manterem atualizados e a melhorar continuamente suas operações.
Regiões de destaque no Brasil
A Embrapa desempenha um papel crucial na pesquisa e desenvolvimento do setor, promovendo soluções inovadoras para a sustentabilidade da pecuária.
Os estados e as cidades que concentram os maiores rebanhos bovinos do país, de acordo com o IBGE, são o estado de Mato Grosso, liderando o ranking, com 32,7 milhões de cabeças, o que corresponde a 14,6% do total nacional. Em seguida vem Goiás, com 23,6 milhões de cabeças (10,5%), e Pará, com 22,3 milhões de cabeças (9,9%). Entre os municípios, são destaques: São Félix do Xingu no Pará, que possui o maior rebanho bovino do Brasil, com 2,5 milhões de cabeças. Esse número representa um aumento de mais de 800% nos últimos 20 anos; em segundo lugar está Corumbá, no Mato Grosso do Sul, com 1,8 milhão de cabeças; em terceiro lugar está, também no Mato Grosso do Sul, com 1,1 milhão de cabeças.