Análise: Mais uma vez, o Agro salva o Brasil

Virgilio Marques do Santos, CEO da FM2S e Doutor em Engenharia Mecânica pela Unicamp

Neste artigo, Virgilio Marques do Santos, CEO da FM2S e Doutor em Engenharia Mecânica pela Unicamp, mostra o cenário do Agronegócio no Brasil., com base em análise de dados disponibilizados pelo Ipea, referentes ao mês de fevereiro.

Recentemente, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgou os dados das exportações do Agronegócio no mês de fevereiro de 2023. Mais uma vez, o agro salvou o resultado da balança comercial do Brasil. Com um superávit de US$ 8,56 bilhões, compensou o déficit de US$ 5,73 bilhões dos demais setores, garantindo um resultado positivo de US$ 2,83 bilhões.

No acumulado de março de 2022 a fevereiro de 2023, o superávit comercial do agronegócio somou US$ 141,96 bilhões, valor 26,2% maior que em março de 2021 a fevereiro de 2022. O saldo da balança foi o resultado de US$ 159,69 bilhões de exportações (crescimento de 24,9% ante igual período anterior) e US$ 17,73 bilhões de importações (crescimento de 15,6%). Apesar desse cenário positivo, deve-se notar uma queda no valor das exportações no comparativo com janeiro desse ano. A soma das exportações caiu de US$ 10,2 bilhões para US$ 9,9 bilhões. Em 2019, 2020, 2021 e 2022, fevereiro foi maior que janeiro.

Para fins de comparação, o déficit comercial apresentado pelos demais setores da economia no mesmo período foi de US$ 79,90 bilhões. O resultado foi pior que o ano passado devido à expressiva alta do valor das importações (19,4%) em relação ao das exportações (5,8%). No total da economia, a balança comercial brasileira dos 12 últimos meses acumula superávit de US$ 62,06 bilhões, valor abaixo do observado em igual período dos 12 meses anteriores. Mais uma vez, o déficit dos demais setores da economia foi compensado parcialmente pelo aumento do superávit do agronegócio que, desde de dezembro de 2021, vem batendo recordes de exportações.

Autor: Virgilio Marques dos Santos, CEO da FM2S Educação e Consultoria
(Foto: Isaque Martins)

Quem mais contribuiu para os resultados do agronegócio?

As commodities agrícolas com as maiores contribuições positivas em fevereiro foram o milho, o farelo e o óleo de soja, a celulose, as carnes suína e de frango e os sucos. A participação dessas commodities na balança comercial mês passado foi fundamental para compensar a queda nos embarques de outros produtos que tradicionalmente possuem peso mais elevado na pauta de exportação, como a soja em grão, algodão e café. Um comparativo de fevereiro de 2022 com fevereiro de 2023, dos produtos com as principais mudanças, pode ser observado na tabela 1.

Tabela 1: Exportações brasileiras do agronegócio, principais produtos (fevereiro 2023)

O campeão em crescimento em fevereiro foi o milho, muito em decorrência da assinatura do acordo com a China, em outubro de 2022. A partir daí, os embarques de milho para o país asiático aumentaram significativamente, chegando a 1,1 milhão de toneladas em dezembro. Neste ano, espera-se uma queda na safra de milho dos Estados Unidos, o que aumentará ainda mais as exportações do produto para China pelo Brasil.

Entre os produtos processados de soja no Brasil, a exportação do óleo de soja tem se destacado. Em fevereiro, o óleo de soja apresentou crescimento de 70,5% ante o mesmo período do ano anterior.

No segmento proteína animal, as carnes suína e de frango apresentaram significativa expansão em fevereiro ante o mesmo mês do ano anterior, tanto em valor – 26,6% e 13,1%, respectivamente – quanto em quantidade – 11,4% e 3,4%, respectivamente.

Commodities importantes caíram

O principal produto na pauta de exportação em fevereiro foi a soja em grãos. A queda de 8,1% em valor no comparativo com o mesmo mês de 2022 foi reflexo da queda nas cotações internacionais e do volume embarcado (-17%), causado pelo atraso na colheita. No entanto, a expectativa para a safra 2022-2023 é que a produção e a exportação brasileira de soja atinjam volumes históricos e o Brasil se mantenha na liderança como o maior produtor e exportador, segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos.

Com o recuo da produção norte-americana e argentina, em função de problemas climáticos, ambos os países estão focando no esmagamento do grão para manter os mesmos níveis de exportação de farelo de 2021-2022, o que permitirá uma participação ainda maior do Brasil como fornecedor mundial (17,6%). Ou seja, apesar do solavanco de fevereiro na soja, a previsão para 2023 é de forte crescimento.

Em relação ao preço do grão, tanto os comercializados no Brasil quanto aqueles do mercado internacional estão abaixo de 2021 e 2022, mas ainda assim acima de 2019 e 2020. A projeção para 2023 e 2024 é de queda, fechando o ano com US$ 1.430,00 e US$ 1.375,00, respectivamente.

Já as exportações de trigo, que chegaram a ser destaque por vários meses na pauta de exportação após o início do conflito entre a Rússia e a União Europeia, voltaram a cair, fechando o mês com queda de 28,4% em valor e 34,6% em quantidade.

O que esperar para 2023?

Apesar do saldo positivo para a balança comercial do agronegócio, o mês de fevereiro apresentou pior desempenho em relação ao mesmo período no ano passado. Entretanto, a queda no valor e quantidade exportados em diversos produtos em fevereiro não pode ser considerada uma tendência. Segundo o IPEA, o atraso na colheita da soja e o problema com a interrupção das exportações de carne bovina em função da suspeita de EEB (Encefalopatia Espongiforme Bovina, doença degenerativa bovina) afetaram o comércio internacional de produtos brasileiros. Mas como falamos, tais acontecimentos podem ser considerados pontuais.

Pelos seus investimentos em tecnologia e educação na área, o Brasil está desempenhando um papel melhor do que nunca no setor. E nossa expectativa é de continuar a fazê-lo, haja vista a crescente procura dos produtores pela especialização de sua mão de obra.

Projetos de treinamento e consultoria que antes eram restritos à indústria automotiva ou aos grandes bancos começaram a embalar no agronegócio. Cada vez mais, os profissionais estão buscando a melhora na produtividade por meio de capacitações e pós-graduações em gestão de projetos e projetos Lean Seis Sigma. É uma escolha assertiva para o momento.

Virgilio Marques dos Santos é um dos fundadores da FM2S, doutor, mestre e graduado em Engenharia Mecânica pela Unicamp e Master Black Belt pela mesma Universidade. Foi professor dos cursos de Black Belt, Green Belt e especialização em Gestão e Estratégia de Empresas da Unicamp, assim como de outras universidades e cursos de pós-graduação. Atuou como gerente de processos e melhoria em empresa de bebidas e foi um dos idealizadores do Desafio Unicamp de Inovação Tecnológica.

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