Um dos setores que enfrenta equações desafiadoras para solucionar questões ambientais está ativo na busca de soluções
Por: Juçara Pivaro
Há muitos anos, a setor de refrigeração vem desenvolvendo tecnologias para tornar seus equipamentos e produtos utilizados mais sustentáveis. A questão da eliminação de substâncias que destroem a camada de ozônio é uma das vitórias do setor em prol do meio ambiente. “Esse é um grande exemplo de como o setor de refrigeração vem atuando nesta agenda, ao promover a transição dos CFCs para as atuais alternativas de gases refrigerantes”, informa Thiago Pietrobom. presidente do DN Meio Ambiente da ABRAVA e da Câmara de Refrigeração e Ar Condicionado da CETESB.
Nesta trilha de desenvolvimento, segundo Pietrobom, os esforços para conter também os efeitos sobre o clima do planeta ganharam força e relevância. Novos padrões e aplicações buscam agora reduzir o uso de gases refrigerantes de alto potencial de aquecimento global.
Na vanguarda da discussão, o setor organiza-se para ir além da discussão sobre substâncias e passa a analisar a eficiência global dos sistemas, incluindo as demais variáveis que somadas, para entregar o melhor resultado ambiental. Isso vem ao encontro da grande contribuição que a refrigeração traz para agenda do clima, ao garantir a redução de perdas e desperdícios em dezenas de cadeiras produtivas, da produção, armazenamento, distribuição, comercialização e consumo final. A cadeia do frio impacta todo ciclo de vida dos produtos e a análise global permite ir além.
A caminho do ESG
O setor de refrigeração tem vários desafios com relação à sustentabilidade. São equações complexas equações complexas para resolver, principalmente, para atender aos requisitos de ESG.
Sobre essa questão, Pietrobom destaca: “entender a materialidade de cada tema para o setor de refrigeração tem sido o grande objetivo no momento. Ações ambientais, sociais e estruturar a governança disso tudo são ações identificadas em todo setor, cabendo agora compreendermos e estruturarmos a trilha do ESG para refrigeração, considerando o impacto para o setor, a relevância para as agendas globais e locais e a percepção dos stakeholders”.
Na estruturação do caminho de atender o ESG, ainda é cedo para afirmar quais seriam os principais avanços. O foco está na jornada, sem deixar de mensurar e avaliar os impactos. Pietrobom explica: “claro que muitas agendas, em especial as ambientais, encontram-se mais maduras, como a das ações de proteção da camada de ozônio, enquanto outras já se mostram bem definidas e se estruturando, como a da participação feminina no setor. Mas ainda há muitas oportunidades para se explorar”.
De volta às origens
Os fluídos ou gases refrigerantes naturais foram os primeiros descobertos e experimentados, quando olhamos para história da refrigeração. Pietrobom ressalta: “o que estamos observando é um retorno a tais origens, com mais tecnologia e conhecimento. Do ponto de vista da eficiência, talvez a grande complexidade do momento seja o fato de que não há mais uma solução única aplicável. A eficiência é buscada ou se considerar materiais diferentes para cada aplicação. Então, sim, refrigerantes naturais são eficientes em muitas aplicações, contudo, ao mesmo tempo, impõem certas limitações em outras aplicações. Por isso, a análise sistêmica, seja de um refrigerador ou um sistema de refrigeração central, seja a climatização de um prédio ou de uma sala, é o que dirá qual a melhor solução”.
Agenda complexa para o setor de refrigeração
Atualmente, em discussão central, está no final do processo de eliminação de HCFCs, no Brasil, com grandes desafios especialmente para a matriz instalada com R22, que deverá migrar toda até 2030. Na sequência, a redução dos refrigerantes de alto GWP, trazidas pela Emenda de Kigali ao Protocolo de Montreal, que impactará diretamente importantes alternativas ao R22 atualmente em uso, com horizonte de mudança até 2040. “Este cenário agrava-se ao identificarmos e, especialmente na refrigeração comercial, industrial e de ar-condicionado de grande porte, ainda não está claro qual o alinhamento entre as alternativas possíveis, mesmo nos mercados mais maduros”, esclarece Pietrobom.
Outro importante desafio está na agenda de clima e mercado de carbono, uma vez que a atenção dada aos fluídos refrigerantes nos inventários de emissões precisa ser melhor trabalhada. O setor entende que há oportunidades negligenciadas nesta área e o desafio é elucidar e agregar valor a tais soluções.
Há ainda desafios na área de economia circular, especialmente quando falamos do fechamento do ciclo dos produtos. Tanto a logística reversa de embalagens e equipamentos obsoletos, quanto o correto tratamento dos resíduos de gases e óleos refrigerantes, precisam ser fortalecidos no Brasil.
“Por fim, a análise de cadeias, sob a ótica da eficiência energética, da eficiência das operações, por meio do desenvolvimento de normas, padrões, rotulagem, certificações, ferramentas de análise e incentivos, inclusive, quando falamos da mão de obra do setor, constituem importantes ações e metas setoriais para contribuição à agenda ambiental”, conclui Pietrobom.