Taxar o agro resulta em fome, inflação e miséria

Frigoríficos testando preços mais baixos no mercado do boi gordo

Por: José Zeferino Pedrozo, presidente do Sistema Faesc/Senar-SC

Ignorância, má fé, oportunismo e dificuldade para compreender a complexa realidade brasileira parece estar por trás daqueles que – nos últimos tempos – passaram a defender “a tributação do agronegócio”, como se o setor já não fosse penalizado por variáveis imprevisíveis como clima, mercado, pragas, guerras etc.

Infelizmente, a verdade é uma só: a carga tributária brasileira é uma das maiores do mundo e consome um terço das riquezas nacionais. O Brasil é ineficiente, cobra impostos elevados e presta serviços precários. O Sistema Tributário Nacional está longe de ser ideal, porque é complexo, moroso, burocrático, gigantesco e injusto. São milhares de normas tributárias federais e milhares de normas dos 26 Estados, do Distrito Federal e dos mais de 5.500 municípios. Levantamento recente mostra a existência de quase 90 tributos, incluindo impostos, taxas, contribuições de melhoria, contribuições sociais, de intervenção no domínio econômico, para categorias econômicas ou profissionais e empréstimos compulsórios.

É muito curioso que o Governo Federal não planeja reduzir despesas, enxugar o tamanho da máquina, fazer uma reforma administrativa ou implementar um programa de racionalização, desburocratização e aumento da eficiência do Poder Público. Ao contrário, aumenta o número de Ministérios, cria novos cargos, eleva os salários e, enfim, só eleva as despesas.

Em compensação, quer tributar um setor que gera 25% das riquezas produzidas no país, sustenta 1 em cada 5 postos de trabalho formais e responde pela metade das exportações brasileiras, colocando 150 bilhões de dólares em divisas para o superávit comercial. A população ocupada no agronegócio brasileiro supera 19 milhões de pessoas, sendo que somente na agroindústria o contingente ocupado é de 4 milhões de trabalhadores. Isso representa bilhões de reais em salários e rendimentos injetados mensalmente na economia.

A comida não surge por geração espontânea nas gôndolas dos supermercados. Milhões de famílias de produtores e empresários rurais no campo e milhares de operários nas agroindústrias trabalham para produzir e processar carnes, grãos, leite, frutas, hortaliças etc. para alimentar o Brasil e boa parte do Planeta. Além da segurança alimentar que oferece aos brasileiros, a agricultura verde-amarela alimenta quase 1 bilhão de pessoas no mundo.

         Não há dúvida que o País necessita de uma ampla, justa e racional reforma tributária, mas inexiste consenso sobre essa matéria. O Legislativo Federal, nesse momento, analisa diferentes Propostas de Emendas Constitucionais (PECs): a PEC 45/2019, que tramita na Câmara dos Deputados, que  substitui vários tributos pelo Imposto sobre Bens e Serviços (IBS), e a PEC 110/2019, proposta no Senado Federal, que estabelece um imposto subnacional, um imposto federal seletivo e uma contribuição federal sobre a produção e circulação de bens e serviços.

         As duas propostas, especialmente as PECs 45 e 110, propõem um sistema padronizado de alíquotas e, dessa forma, aumentam a carga tributária sobre as cadeias produtivas do agronegócio. Na Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) nós já alertamos que a aprovação da reforma tributária nos moldes de uma alíquota fixa para diferentes setores pode provocar um aumento de carga tributária para a agricultura e para a pecuária, afora os impactos sobre a inflação e o aumento do custo dos produtos ao consumidor final.

         Aumentar a tributação do agro, como mostram experiências desastrosas em outros países, resulta em desestímulo de todos os atores das cadeias produtivas, queda de produção, aumento generalizado dos alimentos, inflação, carestia, fome e miséria. E os pobres serão sempre os mais prejudicados.

Compartilhe

Explore nossos conteúdos

FARM REPUDIA DECISÃO DO CEO DO CARREFOUR
Economia

FARM repudia decisão do CEO do Carrefour

Entidade divulgou nota diante das recentes declarações do executivo A Federação das Associações Rurais do MERCOSUL (FARM) divulgou, na quinta (21), nota de repúdio à