A capacidade de adaptação dos diferentes elos da cadeia, juntamente com uma análise cuidadosa das tendências e desafios futuros, será primordial para a sustentabilidade e estabilidade do mercado no próximo ano
O mercado brasileiro de proteína animal, especialmente a carne bovina, enfrentou desafios no último ano, refletindo uma queda temporária nos resultados em toda a cadeia. Fatores como a redução das exportações para a China e a desvalorização do dólar contribuíram para uma diminuição nas margens. No entanto, a tendência aponta para uma recuperação no próximo trimestre de 2023, impulsionada por uma relação favorável entre matéria-prima, boi gordo e carcaça, beneficiando os frigoríficos, o elo mais robusto da cadeia de produção.
Desafios atuais e tendências futuras
O mercado da carne no Brasil enfrentou um período de desafios marcados por quedas nas margens e oscilações de preços. De acordo com Wellington Souza, professor de Economia e Finanças na pós-graduação da FIA Business School, membro do núcleo PENSA e sócio-consultor da empresa Stracta Consultoria, finalizamos o ano num cenário bastante complicado. “Tivemos um ano de 2022 com alta de preço, chegando a ter a arroba na casa dos R$ 340. De lá pra cá, só vimos redução, tendo uma pequena recuperação em outubro deste ano. Então a queda vem forte e numa linha de tendência muito para baixo. Segundo dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada – CEPEA Esalq/USP, o preço da arroba segue atualmente na casa de R$ 230, levando em consideração que a sazonalidade e a dinâmica entre oferta e demanda são fatores determinantes nos preços do boi gordo”.
Nota-se um cenário de incerteza, tanto no aspecto externo, quanto interno. A China, que compra cerca de dois terços da carne bovina brasileira, vem crescendo menos, com alta taxa de desemprego, principalmente entre os mais jovens. Associado a isso, temos uma demanda interna ainda reprimida, começando a dar pequenos sinais de recuperação. “Tem-se então uma demanda mais contida, e por outro lado, uma oferta maior”, explica o especialista.
Impacto na pecuária bovina
A estabilidade de preço é fundamental para a pecuária, portanto, de acordo com Souza, a leitura de cenário que podemos fazer é de uma manutenção de preço da arroba da carne. “O pecuarista perdeu muito dinheiro, aquele pecuarista que não fez o hedge, que comprou bezerro caro, há um, dois anos atrás e engordou no pasto ou confinamento, e agora está vendendo há um preço mais baixo, perdeu dinheiro. O produtor está sofrendo e aprendendo sobre riscos”.
Pecuaristas menos capitalizados ou desprotegidos financeiramente sofreram com a queda nos preços, enquanto os mais estruturados e que conseguiram diversificar sua produção com lavoura tiveram mais chances de mitigar os riscos. “Neste caso, para esses, a tendência é uma recuperação das margens”, completa o consultor.
A indústria neste contexto
Os balanços dos maiores frigoríficos brasileiros tiveram queda nos resultados, mas uma queda aparentemente temporária. Alguns dos fatores importantes que refletem essa queda estão relacionados à menor exportação para a China e o valor de dólar mais baixo, diminuindo assim a margem. Segundo Wellington, “a tendência para o próximo trimestre é de recuperação, até porque a relação matéria-prima, boi gordo e carcaça, está favorável ao frigorífico, que é o elo mais forte da cadeia. A indústria consegue se proteger, nós temos grandes players e o poder de barganha da indústria acaba prevalecendo. As margens da indústria estão se recuperando neste último trimestre e a indústria também consegue pagar mais no campo, refletindo no valor do boi no campo”.
Mercado de aves e suínos
O setor de aves e suínos no Brasil enfrenta desafios significativos, particularmente em relação aos custos de produção, especialmente devido ao aumento do valor do milho, componente essencial na ração animal.
No caso da avicultura, a questão da gripe aviária também impactou o segmento de aves, mas o controle efetivo da situação resultou em um aumento nas exportações, substituindo países afetados pela doença.
A perspectiva para os próximos meses é de melhora, alavancada pelo aumento sazonal do consumo de aves, o que deve refletir positivamente em toda a cadeia.